Antes de tudo, antes do toque, antes do olhar, antes do gosto, antes do som. Antes de tudo, prá mim, vem o cheiro. Sou absolutamente olfativa. A tudo associo cheiros. Minha infância na casa da minha avó. Minha cadelinha. Minha casa. Minhas frutas. Meus livros. Tudo e todos. Ele. O cheiro dele. O cheiro do seu cabelo, da sua pele, da sua boca. Sempre o cheiro. Discretamente, até faço carinho cheirando, encostando meu nariz no pescoço, na orelha.
É um instinto. Um sentido que não engana. Impossível gostar de quem não gosto do cheiro. E, impressionante, me vem em horas esquisitas. Caminhando, no final da tarde com a cabeça em nada – e ao mesmo tempo em tudo – olhando as pessoas em volta, os prédios, as luzes... e eis que o vento sopra mais forte um pouco e me invade o cheiro dele. Atinge completamente meu nariz, minha mente, meu estômago. Meio zonza, começo a procurar em volta. Sei que ele não está presente, mas o cheiro dele está. Eu o farejei com a saudade. E fico assim, meio em câmera lenta, desordenada, invadida pelo cheiro dele captado pela minha memória olfativa. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando manter o cheiro dele dentro de mim.
Dalva Nascimento
Imagem: Google
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Um comentário:
R quando o cheiro não atrai não adianta seguir adiante. Eu também concordo!! Um grande abraço e excelente tarde!!!
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