quinta-feira, 8 de maio de 2014

Uma hora



Escolheu um banco afastado da algazarra da praça e pôs-se a olhar o envelope branco de exame que veio do hospital com o seu nome. Era fino, mas pesava uma vida. Naquele dia, não deu milho aos pombos, não cutucou o vira-lata caramelo nem acenou ao casal de maritacas que o saudava sempre. Na mão esquerda, o tempo em forma de rugas conversava com uma aliança que há muito perdeu o par. Então, olhou o relógio e percebeu que sua hora já havia passado. Enfim, jogou o envelope lacrado no lixo. E se foi. Assobiando.

Leonardo Sakamoto


Imagem: Google


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