domingo, 30 de novembro de 2008

Dar um tempo

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Não conheço algo mais irritante do que dar um tempo, para quem pede e para quem recebe.
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O casal lembra um amontoado de papéis colados. Papéis presos.
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Tentar desdobrar uma carta molhada é difícil. Ela rasga nos vincos. Tentar sair de um passado sem arranhar é tão difícil quanto. Vai rasgar de qualquer jeito, porque envolve expectativa e uma boa dose de suspense.
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Os pratos vão quebrar, haverá choro, dor de cotovelo, ciúme, inveja, ódio. É natural explodir. Não é possível arrumar a gravata ou pintar o rosto quando se briga. Não se fica bonito, o rosto incha com ou sem lágrimas.
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Dar um tempo é se reprimir, supor que se sai ou se entra em uma vida com indiferença, sem levar ou deixar algo.
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Dar um tempo é uma invenção fácil para não sofrer. Mas dar um tempo faz sofrer, pois não se diz a verdade.
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Dar um tempo é igual a praguejar "desapareça da minha frente". É despejar, escorraçar, dispensar. Não há delicadeza.
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Fabricio Carpinejar

Um comentário:

A Respigadeira disse...

Dar um tempo... Não acredito nisto. É um motivo para uma das partes abandonar a relação e não teve a coragem de o fazer no momento certo. Para a outra parte, é um tempo de sofrimento.

Beijinhos

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