sábado, 30 de março de 2013

Eles x elas



O “relacionamento puro” tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se entra “pelo que cada um pode ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem na relação”.

Zigmunt Bauman
(Amor Líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos)


sexta-feira, 29 de março de 2013

Revolução



O poeta Eduardo leva seu cão raivoso a passear

Eduardo, louco em férias, poeta disfarçado em burocrata,
          levanta-se todos os dias com péssimo
          humor, para ser devorado pelo relógio de ponto.

Obediente, amável, prestativo, conhece a fisionomia
         dos carimbos, sabe de cor o roteiro dos papéis
         e sente uma vontade secreta de atear fogo aos
         arquivos.

Adora olhar pela janela. Está sempre olhando pela
         janela, muito embora nada aconteça.

Acredita nos homens, entregaria sua vida por eles,
         porque é um tolo, um humanista impenitente,
         um amante das grandes causas, um aprendiz de 
         santo, um sofredor pela miséria alheia, uma
         vitima do melodramático, um desprotegido contra
         a chantagem emocional, com uma farpa da
         cruz atravessada no coração.

Espera ansioso o momento de lutar pelo proletariado,
         mas não compreende como se resolverá o problema
         de acomodar os milhões de traseiros num
         único trono. E se prepara, desde logo, para enfrentar
         os burocratas, os donos do poder e o 
         pelotão de fuzilamento.

Odeia os delegados, representantes, procuradores,
         emissários, substitutos, intermediários, signatários
         e mensageiros.

Aguarda o suicídio em massa de todos os tiranetes, o
         exílio dos Napoleões do brejo e dos almirantes
         sem navio, que não fazem outra coisa senão passar
         os subordinados em revista e acabam a carreira
         como soldadinhos de pau, esquecidos num
         sótão.

Faz amor com irregularidade, porque não obedece a
         nenhuma tabela nem tem a mulher ao alcance
         da mão. Prefere a monogamia, não por moral
         mas porque já lhe é difícil encontrar uma fêmea
         com sexo e miolos no lugar.

Desconhece o que é café matinal em família, não tem
         filhos para levar ao colégio, embora ame as
         crianças e sinta grande inveja dos que nasceram
         com suficiente mediocridade para as ter sem
         saberem por quê.

Caminha pela noite, sozinho, à caça de fantasmas,
         recebe propostas para ser gigolô e sempre se 
         arrepende por não as aceitar.

Parece crescer ao contrário, da velhice para a adolescência. 
         E enquanto aguarda o momento de
         nascer, leva seu cão raivoso a passear.

Eduardo Alves da Costa, poeta natural de Niterói.
Poema transcrito do livro “No caminho com Maiakovski – Poesia Reunida”
Geração Editorial



quinta-feira, 28 de março de 2013

Saber olhar



No que concerne à humanidade, nunca saberei decidir se devo considerá-la, como dizia Melville, “um amontoado de cópias”, ou um caleidoscópio sempre novo de prodígios incomparáveis.

G. Bufalino


quarta-feira, 27 de março de 2013

A tentação da inocência



É consentir em certos sacrifícios, renunciar às pretensões exorbitantes, aprender que é melhor “vencer nossos desejos do que a ordem do mundo” (Descartes). 
É descobrir que o obstáculo não é a negação, e sim a própria condição da liberdade. É reconhecer que nunca nos pertencemos inteiramente, que de certa maneira nos devemos ao próximo, que abala nossa pretensão à hegemonia. 
Por fim, é compreender que é preciso nos formar transformando-nos, que nos fabricamos sempre contra nós. Em resumo, tornar-se adulto é fazer o aprendizado dos limites, é renunciar às nossas loucas esperanças e trabalhar para ser autônomo, capaz tanto de se inventar quanto abstrair-se de si.

Pascal Bruckner
em A tentação da inocência 


terça-feira, 26 de março de 2013

Da brevidade do homem





Ah!, se soubesses, se soubesses,
terra excessivamente velha e tão jovem,
o gosto amargo e doce, o gosto delicioso
que tem a vida tão breve do homem!

André Gide
em Frutos da Terra



Crédito da imagem: "metrô, túnel, confusão", de Mario Pereira



segunda-feira, 25 de março de 2013

Charles Baudelaire




EMBRIAGUEM-SE

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: “É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso”. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Charles Baudelaire


Crédito da Imagem: daqui


domingo, 24 de março de 2013

Manhãs de domingo


Quem disse que a saudade não chega, sem avisar a hora... sem escolher o dia?

Saudade tem rosto, nome e sobrenome
Saudade tem cheiro, tem gosto.
Saudade é a vontade que não passa.
É a ausência que incomoda.
Saudade é a prova de que
tudo valeu a pena..."

Lu Oliveira



Hoje é domingo... tudo valeu a pena. O que virá também vai valer a pena.
Olhe prá frente, confie, sorria... afinal

Entre o riso e a lágrima há apenas o nariz...

Milor Fernandes

Bom domingo, boa semana...





sábado, 23 de março de 2013

E porque hoje é sábado...





O atroz no sofrimento amoroso é ser punido por ter desejado fazer ao outro todo o bem possível, amando-o; é um castigo não por uma falta mas por uma oferenda recusada. E o não que recebem os reprovados do amor é sem recurso; eles não podem acusar o outro, são devolvidos ao seu próprio abandono.

Pascal Brukner
em "A Tentação da Inocência"


sexta-feira, 22 de março de 2013

Resguardo




A gente nem sempre encontra quem mereça as nossas palavras, não admira que custe a encontrar quem mereça o nosso corpo…

António Alçada Batista

quinta-feira, 21 de março de 2013

Grito





Não tenho paciência para ouvir os outros, não tenho paciência para viver, não tenho paciência para morrer, estou aqui, parada, num desequilíbrio interminável, nunca mais acabo de cair, irrito-me se me falam, sofro se me não dizem nada, odeio o gesto caridoso: a mão de alguém nos meus cabelos, o que eu quero é uma voz que me queira, um momento de descanso nessa voz.

Rui Nunes



quarta-feira, 20 de março de 2013

Bem-vindo, Outono!




Apesar de ser a Primavera a estação mais homenageada pelos poetas, o Outono, para mim, é mais inspirador. Seus tons amarelados, avermelhados e dourados são acolhedores. E as folhas que caem, calmamente, elegantemente, silenciosamente refletem meu apreço pelo silêncio. Tudo isso sem falar na chuva que canta tristemente nas vidraças. Não deve ter sido mera coincidência eu ter nascido nesta estação. Há muito que aprender com o outono... 


terça-feira, 19 de março de 2013

Poesia na terça



TERROR


(…)
Não sei se são os trinta (...) anos, a chuva,
o sabor de mais um dia derrubado
nos transportes coletivos,
a queda maligna das primeiras folhas;
não sei o que é, talvez o teu amor
comece, pouco a pouco, a civilizar-me.
Agora, se chego em casa e tu não estás,
corro a pôr música, abro janelas,
agarro-me ao telefone, como um náufrago,
incapaz de suportar por um segundo
o terror emboscado debaixo da cama,
atrás das estantes, dentro de mim.

José Miguel Silva


segunda-feira, 18 de março de 2013

O "prá sempre" sempre acaba




Ele insistia. Era teimoso, não se contentava com o eu-te-amo. Insistia, insistia.
— Diga que é para sempre.
Ela, querendo ser totalmente sincera, respondia:
— Para sempre… não, não posso dizer.
Engraçado que, lá no fundo, sabia que era para sempre, mas desconfiava de promessas que não pudessem ser cumpridas por culpa da vida. Era como prometer que não se iria morrer.
— Por que você não diz, hem Maria? Você não me ama de verdade?
— E como, João! Amo a você até mais do que a mim mesma, mas a vida…
— Pois eu digo sem medo: amo você para sempre, sempre, sempre…
Maria ria entre feliz e sem graça. E entregava-se a esse amor que fazia cada minuto parecer o sempre.
Um dia João chega muito solene e pede-lhe:
— Maria, mesmo que não seja, diga pra mim que é pra sempre, tá? Quero ouvir “para sempre”.
E Maria passou a dizer o advérbio. A princípio tímida; depois categoricamente.
— Eu te amo, João.
— Muito?
— Muito — respondia ela.
— Para sempre?
— Para sempre — confirmava.
O tempo passava. O amor de Maria por João aumentava. Agora o sempre era uma certeza e a vida só delícias, para todo o sempre.
— Pra sempre te amarei, João.
— Sei disso, Maria. Nós dois somos para sempre.
— É, João, pra sempre.
Maria não tinha dúvidas quanto a João. E muito menos quanto a si mesma.
Eternamente para sempre… para sempre eternamente.
E a felicidade vivia com ela e tão plena estava que nem percebia João fazer-se um talvez. Esquivo hoje, amanhã — e ela não via ou não queria ver. Até que…
— Maria, vou-me embora.
— Por que, uai!
— Não te amo mais, Maria.
— Não?!
— Não.
— Assim, João?
— É.
— Mas não podemos… não posso fazer alguma coisa? Me dá um tempo, João.
— Não, não posso.
— Mas, João!
— Não volto mais, Maria. E é para sempre.

Márcia Carrano
no livro "Porção de Tintas"



Crédito da Imagem: Fotografia de Willy Ronis



Era uma vez, há muito tempo atrás...



Autor: Brigid Pasulka
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2010
1ª Edição
Nº de páginas: 376


Vou confessar uma coisa: comprei este livro por causa da capa. Ele estava no stand da livraria, num lugar de destaque, e assim que eu entrei dei de cara com ele. Romântica como sou, fiquei atraída pela capa e curiosa pela historia que as orelhas do livro anunciavam... e me surpreendi com uma leitura apaixonante.

O livro conta a historia de duas mulheres polonesas. Uma acontece às vésperas da II Guerra Mundial e é uma linda história de amor e guerra. As personagens são Pombo e Anielica. Pombo era o rapaz mais confiável que vivia na Meia-Aldeia, e ela, Anielica, a moça mais linda da região.

Intercalada à história de Pombo e Anielica, a autora nos conta também a história de uma jovem, cinquenta anos depois, Baba Yaga, que deixa a Meia-Aldeia e vai viver com Irena e Magda, suas parentas, após a morte de sua mãe.

De uma forma muito interessante somos apresentados à história dos jovens apaixonados, vivendo um romance inocente e enfrentando as dificuldades da guerra. Já Baba Yaga vive uma vida relativamente desinteressante - uma jovem em busca de auto-conhecimento e da realização de seus sonhos. As duas historias vão nos conquistando pouco a pouco e quando descobrimos o elo entre elas, ficamos ainda mais encantados com o livro, que realmente parece um conto-de-fadas - afinal, em meio a tantas dificuldades e tristezas, o amor prevalece.

Diferentemente de uma mera história de amor, "Era Uma Vez, Há Muito Tempo Atrás" é um livro que nos deixa curiosos sobre o seu final.... e creia - uma grande surpresa nos aguarda nas últimas páginas.

Não deixe de ler, é um livro lindo! Recomendo.



domingo, 17 de março de 2013

Manhãs de domingo




Que teu olhar seja tanto mais ávido quando mais rápida for a travessia.

André Gide
em Frutos da Terra

Bom domingo, boa semana... tenha fome no olhar!

  

sábado, 16 de março de 2013

Nossos tempos



Nonsense


Cole Sear: I see dead people.
Malcolm Crowe: In your dreams?
[Cole shakes his head no]
Malcolm Crowe: While you’re awake?
[Cole nods]
Malcolm Crowe: Dead people like, in graves? In coffins?
Cole Sear: Walking around like regular people. They don’t see each other. They only see what they want to see. They don’t know they’re dead.
Malcolm Crowe: How often do you see them?
Cole Sear: All the time. They’re everywhere.

Do filme “Sexto Sentido” 


A Montanha e o Rio




Autor: Da Cheng
Editora: Nova Fronteira
Primeira Edição
Ano: 2007
Número de páginas: 496


Dois irmãos e um só pai - o general Ding Long... Sentho é filho bastardo, fruto do seu relacionamento extra-matrimonial com uma linda camponesa. Tan é o filho do casamento, primogênito que nasce numa família estruturada e influente.

O livro começa num clima ao mesmo tempo mágico e trágico: o nascimento de Sentho. A tragédia e a magia de seu nascimento acontecem ao mesmo tempo. Sua mãe, grávida nos últimos dias, se atira de um penhasco e neste momento dá à luz o menino que sobrevive graças a um milagre, pois fica preso a um arbusto de chá. Um velho curandeiro o resgata e o cria como filho, na pobreza das montanhas.Com a morte de seus pais adotivos, vai viver em um orfanato onde passa a viver sozinho, assustado e faminto.

A vida de Tan é marcada pelo luxo e pelo conforto, filho de uma linda mulher. A mãe é pianista e ele vive em Pequim.

A narrativa épica da saga desta familia conta a trajetória dos dois meninos, durante quase 40 anos, envolvendo tramas de conspiração, paixão e mistério.

Sentho e Tan, tão distantes entre si, separados pela distância geográfica e pelas condições de suas vidas tão diferentes -  é sobre isto que trata este lindo e triste livro... caminhos diferentes que conduzem a um ponto de encontro, no cenário da China do final do sec. XX. São colocados frente a frente pelo destino numa situação que os transforma em inimigos, já que são adversários políticos - além de estarem apaixonados pela mesma mulher, a bela Sumi. Pode parecer meio clichê, mas não se enganem - a história é muito bonita.

Dan Cheng nos apresenta a história alternando capítulos e personagens, numa narrativa envolvente e apaixonante. Ele nos emociona com sua linguagem poética , marcada por  metáforas. Através dos quarenta anos de história acompanhamos a mudança  das personagens provocada pelo tempo - mudam-se os aspectos físicos, seus ânimos e seus ideais.

A realidade política e social da China, marcada pelos conflitos políticos, também é fator determinante na estrutura das personagens, influenciando, desde a infância, seu caráter e seus sonhos.

Valores como família e honra, patriotismo, superação e coragem marcam a luta pela liberdade, no jogo pelo poder. A narrativa faz com que nos apaixonemos pelas personagens e nos pegamos torcendo por seus destinos... e aprendemos, junto com elas, que todos somos moldados por nossas escolhas e nossas ações.

Enfim, é um livro que, apesar de grande, é muito agradável de ler. É dinâmico, envolvente e, para quem gosta de épicos com tempero de conspiração e militarismo é imperdível. Recomendo!


sexta-feira, 15 de março de 2013

Resplandecer




v.i. Luzir, brilhar intensamente; rutilar.
Fig. Sobressair, tornar-se notável, engrandecer-se. (Var.: resplendecer.) O mesmo que resplender e esplandecer.



Aprendi a julgar todos os seres pela sua capacidade de recepção luminosa; alguns que durante o dia souberam acolher o sol apareceram-me a seguir, à noite, como celas de claridade.

André Gide
em Frutos da Terra



Crédito da imagem: "Ju sob o sol", de Demétrio Sena

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ah... e então?!




O que é melhor, uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? Vamos, o que é melhor?

Fiódor Dostoiévski
in Memórias do Subsolo 



Crédito da imagem: "O Palco e a Vida", de Céu Guitart


Obrigada!!!

Não tem coisa melhor do que começar o dia recebendo carinho. Aliás, tem sim! Começar agradecendo por este carinho recebido! 
Este post é para agradecer o carinho da Silvana Haddad, do Blog Meus Devaneios Escritos, uma das mais queridas leitoras deste Infinito Particular. Ela, gentilmente, distinguiu este blog entre os merecedores do selo  "The Versatile Blogger Award":



E, como a melhor forma de agradecer também é retribuir, indico os blogs abaixo para partilhar o selo:

Blog Mãe, Esposa, Dona de Casa, Trabalhadora: http://www.driviaro.com.br/
Blog Reticências http://www.reticenciando.com/
Blog da Lilli http://lilligarcia.blogspot.com.br/
Blog Flor de Lis http://lis-costa.blogspot.com.br/
Blog a Moça do Sonho http://www.mocadosonho.com/
Blog Luz de Luma, Yes PartY! http://luzdeluma.blogspot.com.br/
Blog Perfume de Jacarandá http://perfumedejacarand.blogspot.com.br/
Blog Luna Blanca http://wwwemocoesesolidao.blogspot.com.br/
Blog Caderininho da Maria http://caderninhodamemeia.blogspot.com.br/
Blog HistóriaS http://historiasylvio.blogspot.com.br/
Blog 50 possibilidades http://50possibilidades.blogspot.com.br/
Blog Entre Pássaros e Flores http://entrepassaroseflores.blogspot.com.br/
Blog Lançando Palavras http://palavra-itinerante.blogspot.com.br/
Blog Tin@ em Sampa http://tina-carioca-sampa.blogspot.com.br/
Blog (In)Percepções http://in-percepcoes.blogspot.com.br/





quarta-feira, 13 de março de 2013

Classificados


DOA-SE


Balanço extremamente solitário necessita de um lar amoroso

Um balanço bastante usado, mas em condições estruturalmente boas, procura um novo lar. Crie lembranças com seu filho, ou filhos, para que um dia ele, ou ela, ou eles olhem para o quintal e sintam o mesmo tipo de sentimentalismo que experimentei esta tarde. Tudo é frágil e efêmero, caro leitor, mas com este balanço seu filho conhecerá os altos e baixos da vida devagar e com segurança, e também poderá aprender a lição mais crucial de todas: não importa quão forte seja o impulso, não importa o quão alto se chegue, não será possível dar uma volta completa.

O balanço reside atualmente na Rua 83, quase esquina com a Spring Mill.

(anúncio colocado no jornal pelos adolescentes  Hazel Grace e Gus, personagens de "A Culpa é das Estrelas", de  John Green - Editora  Intrínseca - página 117)


terça-feira, 12 de março de 2013

Dize-me


Dize-me o que sentes em teu quarto solitário,



 quando a lua cheia te visita e que tens apagada a tua lâmpada, 
e eu te direi a tua idade e  saberei se tu és feliz.

Amiel 
em "Diário Íntimo"


segunda-feira, 11 de março de 2013

A luz que não se apaga




Na primeira noite, ela trouxe uma vela. Disse que ficaria a duração da chama. Uma hora depois, quando a luz se apagou, levantou-se, arrumou o vestidinho rendado e, com as sandálias na mão, se foi pela estradinha de terra. Apaixonado, comprou velas de sete dias, velas de metro e outros castiçais votivos. Mas todas duraram uma hora… Por fim, deu as mãos para o tempo, fazendo valer cada minuto juntos como se fosse o último. Desde então, dizem que a casinha de Chico tem uma luz que não se apaga.

Leonardo Sakamoto


domingo, 10 de março de 2013

Manhãs de domingo




Eu queria que Deus me desse férias
Ao menos uma vez por semana
Que não se preocupasse comigo
Pois se esquecendo de mim
Ao menos uma vez por semana
Eu fico fora do seu olho grande
E posso ter por exemplo
Os meus ... domingos ...
Só para bobagens
Não contra Ele que jamais
Consentirei seja ofendido
Mas para eu fazer minhas tolices
Cá a meu modo
Ao menos uma vez por semana
Sem que ele precise saber ou tomar nota
Pois são tão fúteis
Tão bobas
Tão bobas mesmo
Que só de pensar que Deus toma nota
Perco até o gosto…

Aníbal Machado
in "A arte de viver e outras artes "

Bom domingo, boa semana...
De vez em quando é bom fazer "bobagens"!

sábado, 9 de março de 2013

Uma doideira boa na espinha


Uma crônica bem ao estilo mineiro, carregadinha de delicadezas. A autoria  é do cirurgião dentista, José Antonio Oliveira que nos encanta com sua sensibilidade e com personagens calejados pela lida da vida no campo mas que estão cheinhos de sentimentos os mais puros... que chegam a beirar a utopia e povoar nossa fantasia! 

Apreciem:
Desconheço a autoria da imagem

Encontro Gertrudes carregando lenha. E digo, afetuoso, que hoje é o Dia Internacional da Mulher, que ela deveria estar fazendo algo mais leve. E ela responde, mais ou menos assim, cito de memória e algum arranjo:

- Ih, rapaz, tenho tempo não. Cabô a lenha lá de casa. Uso pro feijão, nóis gostamos de feijão feito na lenha, é muito bão, né não? E pra fazer sabão no tacho. Adespois, lá em casa, a gente pouco comemora, tanto trabalho! Ficamos parado não! Meu marido, eu e meus fios a gente pega a vida na unha, senão vem a ruína. E de cabras e ruínas a gente tá cheia. E tombém, lá em casa, Agenor e eu não gostamos de descansar à toa, sempre tem tarefazinha. Minha sorte, Agenor me ajuda, vai fazendo o que tiver pela frente, não espera, não manda, ele vai e faz, pode ser até lavar a roupa que ele vai e faz, caso eu tiver ocupada, tem preferência não.

Agenor não me manda não, que eu detesto ser mandada, se fosse assim eu me separava, num guento mandonismo. Mas também não mando nada: é tal e qual pros dois. E tem tanto por fazer que quem for mandar, vai ficar no resguardo. Lá em casa a orde é ir fazendo, não esperar ninguém para fazer.

Se me agrado? Uai, e houvera de ser diferente? Eu... Sabe, eu gosto disso no Agenor, certas delicadezas dele. Quando ele trabaia, por exemplo, limpando as panelas, ou varrendo o chão ou arrumando a mesa, eu fico olhando ele na nuca, ele des costas, é tão bonito um homem daquele, com aquela força, os dedos e as mãos cheias de calo fazer esses serviços de casa, eu acho bonito, me sobe uma doideira boa na espinha, eu queria ser aquela panela na mão dele, queria ser a toalha que ele alisa, a vassoura (risos)... Que me cresce o amor, não é assim?

Ele é um touro, mas ele que me acha a mulher mais forte do mundo, mais forte que ele, e eu vejo nos olhos, que ele me respeita, que ele gosta de se aquietar comigo, desaprendi viver sem ele, se fosse embora eu ia sofrer muito. Tenho tanto amor por ele que quase choro, com pena dele, se ele atrasa pro almoço, detesto imaginar que ele vai passar fome, isso me dá tristeza funda! 

Se sou feliz? Acho que sim, tenho saúde e força pro trabaio, terrive seria ficar doente, entrevada, disso tenho medo. Sou feliz, sim, eu sou livre, não dependo de ninguém, aprendi ter forças, viver é bão.



sexta-feira, 8 de março de 2013

Ah... e se???


E de novo... encontros...


Se por acaso a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver com garra
eu ia tirar de ouvido todos os sentidos
ia ser tão divertido tocar um solo em dueto
ia ser um riso ia ser um gozo
ia ser todo dia a mesma folia
até deixar de ser poesia e virar tédio
e nem o meu melhor vestido era remédio
daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...

Alice Ruiz

Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. 
E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, 
nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.

Rubem Alves



quinta-feira, 7 de março de 2013

E de repente...


Há tantos desencontros...


Tenho encontrado muitas pessoas,
- porém não encontro gente...
Há um vazio dentro de cada um,
um processo de fechamento em sentimentos.
Encontro sorrisos,
porém daqueles que expõem apenas os dentes,
- mas não a alma.
Encontro verdadeiras tocaias,e não corações.

Cora Coralina 

Mas de repente, acontece algo que nos deixa felizes...

... o encontro


“Acho maravilhoso perceber o quanto algumas vidas interagem com a nossa de um jeito tão mágico e bonito. Todo encontro que verdadeiramente nos toca é uma espécie de milagre num mundo de bilhões de seres humanos. Algumas pessoas a gente nem imaginava que existiam, mas, meu Deus, que agrado bom é para a alma descobrir que vivem. Que estão por aqui conosco. Pessoas que fazem muita diferença na nossa jornada, com as quais trocamos figurinhas raras para o nosso álbum.”

Ana Jácomo


quarta-feira, 6 de março de 2013

Está tudo bem




"Fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas; fingir que está tudo bem; olhas-me e só tu sabes; na rua onde os nossos olhares se encontram é noite; as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis; as pessoas falam e não imaginam; nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem, o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir; será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer; amor e morte; fingir que está tudo bem; ter de sorrir; um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."

José Luis Peixoto


segunda-feira, 4 de março de 2013

A minha casa




Minha casa fica perto dos telhados; moro pertinho das nuvens e tenho por vizinhos os passarinhos.
Quando chego em minha casa, tranco a porta e fico ali, sozinha por horas e horas, imaginando coisas, sonhando coisas, pensando, fantasiando
então sinto como a minha casa é cheia, cheia de tantas coisas que só eu entendo.
Se chegar uma visita na minha casa ela não vai entender as coisas da minha casa, porque cada uma daquelas coisas tem uma história, cada coisa guarda uma lembrança.
Só eu posso entender a minha casa, a maioria das pessoas não - porque olha uma coisa aqui e outra ali.
Eu não - eu olho tudo, eu vejo tudo ao mesmo tempo.

Livre adaptação de um trecho do conto "O meu quarto", de Ana Miranda


domingo, 3 de março de 2013

Manhãs de domingo





Não podemos mandar no vento,  mas devemos deixar a janela aberta.

Krishnamurti

UPDATE
Ha comentários que valem um post...


"E já estamos no mês de março.
Puxa, como o tempo passa pela gente, quase nos atropelando.
Pra evitar acidentes no percurso, é inevitável desviar do desãnimo e da apatia.
Apertar os cintos de segurança e se agarrar a fé.
E desejar que março chegue trazendo muito amor.
Que os ventos levem embora o que pesa na alma e no coração.
Deixando somente a esperança de que dias de alegria estão batendo á sua porta.
Tá escutando ás batidas????
Então corre abrir.
Não perca mais tempo.
Vá ser FELIZ!!!!

Silvana Haddad




Bom domingo, boa semana... que só bons ventos soprem prá você!




sábado, 2 de março de 2013

Matéria do humano


  Você consegue viver sem drogas legais?


...

Pedro conta que a primeira vez que tomou antidepressivo, anos atrás, foi ao perder uma pessoa da família. A dor da perda o paralisou. Ele não conseguia mais trabalhar. Queria ficar quieto, em casa, de preferência sem falar com ninguém. Nem com a sua mulher e com os filhos ele queria conversar. Pedro só queria ficar “para dentro”. E, quando saía de casa, sentia um medo irracional de que algo poderia acontecer com ele, como um acidente de carro ou um assalto ou ser atingido por uma bala perdida. Ele mesmo pediu indicação de um bom psiquiatra a uma amiga que trabalha na área. Pedro sentia que estava afundando, mas temia cair na mão de algum charlatão do tipo que receita psicofármacos como se fossem aspirinas e acredita que tudo que é do humano é uma mera disfunção química do cérebro.
...
Com a autorização de Pedro, procurei o psiquiatra dele para uma conversa. É um profissional inteligente e sério. E foi de uma honestidade rara. Perguntei a ele porque receitava psicofármacos para gente como Pedro. “Porque vivemos num mundo em que as pessoas não têm tempo para elaborar o que é do humano. Muitas vezes eu me deparo com essa situação no consultório. Vejo uma pessoa ali me pedindo antidepressivo porque não consegue mais trabalhar, não consegue mais tocar a vida. Eu sei que ela não consegue mais trabalhar nem tocar a vida porque é a sua vida que se tornou impossível, porque precisa de um tempo que não tem para elaborar o vivido. É óbvio que não é possível, por exemplo, elaborar um luto ou uma separação em uma semana e seguir em frente como se nada tivesse acontecido. Assim como não é possível viver sem dúvidas, sem tristezas, sem frustrações. Tudo isso é matéria do humano, mas o ritmo da nossa vida eliminou os tempos de elaboração. Essa pessoa não é doente – é a vida dela que está doente por não existir espaço para vivenciar e elaborar o que é do humano.


Eliane Brum - Revista Época
Texto completo aqui 




 



sexta-feira, 1 de março de 2013

Wish you 're here




How I wish, 
how I wish you were here,
We're just two lost souls swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground,
What have we found?
The same old fears,
Wish you were here.

Pink Floyd



Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?

Legião Urbana


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...